GOVERNO CEDE ÀS PRESSÕES DOS PATRÕES
Camaradas,
Realizou-se
no dia 19 de Dezembro uma reunião da CPCS (Comissão Permanente de Concertação Social) para discutir o aumento do
Salário Mínimo Nacional (SMN). Uma leitura atenta da proposta do Governo
confirma que estamos perante um documento desequilibrado e de cedência
inequívoca às chantagens das confederações patronais.
Daqui
decorre que os valores apresentados para a actualização do SMN são
insuficientes; o patronato continua a ser financiado pelos impostos
pagos pelos trabalhadores, reformados e pensionistas; a contratação
colectiva e a precariedade do emprego são tratadas de forma genérica e
sem compromissos objectivos, nomeadamente no que respeita à revogação da
norma da caducidade e à reintrodução plena do princípio do tratamento
mais favorável; os patrões são contemplados com um novo e chorudo pacote
financeiro.
Neste quadro, importa destacar:
1. O Governo propõe 557€ a partir do dia 1 de Janeiro de 2017, mas acrescenta que para 2018 e 2019 a actualização será semestral com o objectivo de se atingir os 600€ durante o ano de 2019.
Esta é uma proposta que visa diluir no tempo a actualização do SMN com
manifesto prejuízo para os trabalhadores, considerando que há uma
diferença significativa entre receber os 600€ em Janeiro de 2019 ou num
outro mês qualquer do ano. Acresce que a posição agora apresentada
contraria o que está consagrado no programa do Governo;
2. A
tentativa de, a partir de 2020, se passar a adoptar um modelo semestral
de actualização que “expressamente” garanta a manutenção do poder de
compra … É por demais que há uma clara intenção de inverter o rumo de aumento do SMN acima da inflação;
3. A redução de 1 p.p. (até agora era 0,75%) das contribuições do patronato para a Segurança Social.
Esta verba é suportada pelo Orçamento do Estado. Ou seja, pelos
impostos pagos pelos trabalhadores e pensionistas. Uma situação
inadmissível num quadro em que o Governo diz não ter dinheiro para
aumentar os salários dos trabalhadores da Administração Pública e as
pensões dos reformados, mas tem disponibilidade para entregar de mão
beijada ao patronato verbas significativas do Orçamento do Estado. E
que, inclusivamente, contraria o Programa do Governo quando este se
compromete, nomeadamente, a reforçar a sustentabilidade da segurança
social e a reavaliar as isenções e reduções da taxa contributiva;
4. Esta intenção de redução da TSU é, além disso, contraditória com o acordo de concertação social de Janeiro de 2016 quando estabelece que as medidas não devem penalizar a segurança social;
5. A ausência de um compromisso sério da parte do Governo para pôr termo à caducidade das convenções colectivas. A
proposta de “não denúncia de convenções colectivas de trabalho durante
um período de 18 meses”, não só não responde ao problema de fundo, como
visa dar sequência a uma estratégia de manutenção da caducidade na lei.
Não é admissível que um Governo que prometeu “mudança de políticas”,
mantenha uma norma que “coloca os sindicatos em estado de necessidade”
(expressão utilizada pelo Ministro Vieira da Silva, em 2005) e que é
responsável pelos bloqueios da negociação da contratação colectiva e a
acentuação da exploração, das desigualdades e do empobrecimento dos
trabalhadores e das suas famílias;
6. A atitude discriminatória do Governo relativamente à protecção no desemprego.
Não se questionando a preocupação com o “desemprego de trabalhadores
independentes com actividade empresarial”, é lamentável que não se tomem
as medidas, há muito defendidas e reclamadas pela CGTP-IN, para
assegurar o subsídio social de desemprego a mais de metade dos
desempregados que não têm qualquer protecção social. Também aqui não
pode haver dois pesos e duas medidas;
7. A atitude magnânima do Governo relativamente às reclamações patronais.
No essencial basta ler o documento das confederações patronais para
verificar que a esmagadora maioria das suas reivindicações foram
contempladas. É de salientar neste contexto a contradição entre a
satisfação destas reivindicações patronais e o conteúdo dos Relatórios
sobre o salário mínimo nacional elaborados pelo Governo que mostram não
haver impactos negativos para a economia e o emprego decorrentes do
aumento do salário mínimo;
8. O valor reivindicado (600€) pela CGTP-IN, para 2017, faz todo o sentido. Com
efeito, se tivermos presente a evolução da inflação e da produtividade
ao longo dos anos, o valor do SMN no próximo ano deveria ser de 902€.
9. Ao
contrário do que o patronato invoca, os encargos com os salários e os
encargos com a Segurança Social, no total dos custos das empresas, são
pouco significativos. Os últimos dados do Banco de Portugal referentes a
2015, são elucidativos.
2015
|
||
Todas as empresas
|
13,60%
|
|
Todos os sectores
|
Grandes empresas
|
11,10%
|
Médias empresas
|
14,60%
|
|
Pequenas empresas
|
16,40%
|
|
Micro empresas
|
15,50%
|
|
Todas as dimensões
|
Agricultura, floresta e pesca
|
14,10%
|
Indústrias transformadoras
|
13,70%
|
|
Construção
|
20,10%
|
|
Comércio
|
8,00%
|
|
Alojamento e restauração
|
25,40%
|
10. Ao assumir a redução de 1 p.p. dos patrões para a Segurança Social, o Governo está a incentivar as empresas a apostar na contratação de trabalhadores com o SMN
e a contribuir para o bloqueamento da contratação colectiva e a
estagnação e/ou absorção das restantes grelhas salariais. Tal facto, é
comprovado pelo crescente número de trabalhadores (21%) abrangido pelo
SMN. Por outro lado, esta é uma medida que põe em causa o anúncio da
importância da dinamização da contratação colectiva e do combate ao
modelo de baixos salários e de precariedade.
11. A
CGTP-IN continuará empenhada em contribuir para encontrar soluções
justas que respondam aos problemas dos trabalhadores. Mas não será
contemplativa nem colaboracionista com propostas que, a pretexto da
negociação do SMN, sirvam para acentuar as desigualdades entre o
trabalho e o capital. Neste contexto, independentemente do que resultar
das reuniões da CPCS, a CGTP-IN exorta todos os trabalhadores a
lutarem nos seus locais de trabalho pelo aumento do SMN para 600€ em
2017 e pelo aumento geral dos salários!
Saudações Sindicais,
Arménio Carlos
Secretário-Geral
Sem comentários:
Enviar um comentário