EM DEFESA DO DIREITO À ÁGUA E DA GESTÃO PÚBLICA
Iniciativa legislativa de cidadãos volta ao Parlamento
A
iniciativa legislativa de cidadãos, promovida em 2013 pela campanha
«Água é de todos» e subscrita por mais de 44 mil cidadãos eleitores,
voltou ao debate parlamentar na passada sexta-feira, 23.
Na
sessão foi discutido o Projecto de lei nº 358/XIII «Protecção dos
direitos individuais e comuns à água», da autoria do PCP, que assume e
reapresenta a iniciativa legislativa de cidadãos (ILC) com o mesmo nome.
Em
Outubro passado, também o grupo parlamentar do BE retomou integralmente
o articulado da ILC, com vista à sua reapreciação pelos deputados.
Recorde-se
que, na anterior legislatura, o projecto foi rejeitado pela maioria
PSD/CDS, em 10 de Outubro de 2014, mas contou com o voto favorável de
PS, PCP, BE e PEV, forças políticas que constituem hoje a maioria no
Parlamento, existindo portanto todas as condições políticas para a sua
aprovação.
É
seu objectivo consagrar na legislação portuguesa o direito à água e ao
saneamento, reorientar os princípios de utilização e administração da
água para a prioridade à necessidade humana, à segurança, ao interesse
comum, à equidade de benefícios, adequação ecológica e à sua
preservação, bem como impedir a privatização do domínio público hídrico e
dos serviços públicos de água, reservando estas actividades apenas a
entidades de direito público.
No interesse das populações
A
campanha «Água é de todos» está convicta de que o projecto que vai ao
encontro do sentir da larga maioria da população portuguesa e dos
valores e princípios inscritos na Constituição da República Portuguesa
sobre esta matéria.
Como a realidade demonstra, as privatizações/concessões da água lesam gravemente os interesses municipais, os direitos das populações e dos trabalhadores.
A
este propósito, é particularmente simbólico que a primeira
remunicipalização em Portugal esteja a decorrer em Mafra, município que
inaugurou o processo de privatização da água entre nós, pela mão da
mesma força política (PSD) que na altura apregoou as alegadas vantagens
dos operadores privados.
Em sentido contrário, a maioria PSD da
Câmara de Vila Real de Santo António pretende privatizar/concessionar
os serviços de água e saneamento por 30 anos, ameaçando direitos das
populações e trabalhadores.
Reverter a privatização da EGF
Na
mesma sessão parlamentar será debatida uma petição que defende a
reversão da privatização da EGF e das fusões das empresas das águas.
A
iniciativa foi promovida por uma Plataforma constituída pelo STAL,
SITE-Sul e STML, pelo Movimento de Utentes e Associação Água Pública,
tendo recolhido mais de 6500 assinaturas, entregues na AR entregue em
Abril passado.
Passado
mais de um ano da privatização da EGF, verifica-se que o accionista
privado (SUMA-Mota-Engil), não respeita a contratação colectiva e mantém
os salários congelados.
A
sua prioridade foi embolsar os resultados/dividendos gerados pelas
empresas e pelos trabalhadores antes da privatização (mais de 20 milhões
de euros em 2015), recursos que antes da privatização eram utilizados
para garantir tarifas acessíveis e para realizar os investimentos
necessários.
No
que respeita à fusão dos sistemas multimunicipais de águas e
saneamento, os peticionários exigem que o processo em curso seja feito
no respeito pelos «princípios da autonomia local, da subsidiariedade e
da descentralização, assegurando a proximidade dos serviços como factos
de coesão económica e social do território».
Para
além disto, exigem o «reforço e a valorização das atribuições e
competências municipais na prestação dos serviços de água, saneamento e
resíduos»; o «apoio aos municípios na renegociação e eventual
remunicipalização das concessões municipais de águas, saneamento e
resíduos»; «uma política de preços e tarifas que assegurem a todos o
acesso a estes serviços em condições de igualdade» e a «defesa dos
postos de trabalho, dos salários, dos direitos e da melhoria das
condições de trabalho, assegurando a valorização social e profissional
dos trabalhadores destes sectores».
Lisboa, 20 de Dezembro de 2016
A Campanha «Água é de todos» é promovida pelas seguintes organizações:
Associação Água Pública; Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC); Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP-IN); Confederação Nacional da Agricultura (CNA); Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD); Federação Nacional dos Professores (FENPROF); Federação Nacional Sindicatos Função Pública (FNSFP); Movimento de Utentes Serviços Públicos (MUSP); Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, Empresas Públicas, Concessionárias e Afins (STAL) / União Sindicatos Lisboa/CGTP.
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