A Câmara de Mafra, que
foi o primeiro município a privatizar os serviços de água e saneamento em
Portugal, faz precisamente 22 anos, decidiu, dia 9, por unanimidade, rescindir
o contrato de concessão com a empresa Be Water.
A deliberação foi
tomada após o operador privado ter apresentado um pedido de aumento das tarifas
em 30 por cento, o que foi considerado «inaceitável», sublinhou o município em
comunicado.
Com vista a efetuar o
resgate da concessão, a autarquia promoveu um estudo de viabilidade económico-financeira
e jurídica, concluindo que a gestão municipal integral dos serviços permitirá
reduzir as tarifas até cinco por cento, e, por conseguinte, em vez de um
agravamento, os consumidores domésticos poderão beneficiar de uma redução na
fatura.
No entanto, segundo
dados do estudo citados na imprensa, a rescisão do contrato de concessão poderá
implicar uma despesa até 11,6 milhões de euros para indemnizar a
concessionária, além de investimentos na renovação e ampliação da rede
municipal de água e de saneamento, avaliados em cerca de 13 milhões de euros.
A autarquia afirma
ainda que todos os trabalhadores da concessionária serão transferidos para a
futura entidade gestora do serviço, que será cem por cento municipal, frisando
que o serviço será sempre garantido com o máximo de qualidade.
Melhor prevenir que remediar
O STAL saúda vivamente
a deliberação da autarquia de Mafra, considerando particularmente simbólico que
esta remunicipalização tenha lugar no mesmo município e pela mão da mesma força
política (PSD), que inaugurou o processo de privatização da água em Portugal.
A reversão da concessão
desmente a apregoada superioridade da gestão privada e confirma a verdadeira
natureza da privatização: os privados embolsam chorudos lucros, os municípios e
as populações pagam a fatura. Confirma ainda que, para evitar os enormes riscos
da privatização e o pagamento de indemnizações milionárias, estes serviços
essenciais não deviam nunca ter saído da esfera pública.
O STAL considera que
devem ser criadas condições para facilitar a remunicipalização dos serviços
privatizados, mediante a anulação de contratos abusivos e já declarados ilegais
pelo Tribunal de Contas.
Lembra ainda que
existem na Assembleia da República vários diplomas nesse sentido, como é o caso
do Projecto de Lei n.º 335/XIII/2.ª «Protecção dos direitos individuais e
comuns à água», resultado da iniciativa legislativa de cidadãos promovida pela
campanha «Água é de todos».
Travar a privatização em Vila Real de Stº António
Finalmente, o STAL
espera que a maioria PSD da Câmara de Vila Real de Santo António, que pretende
privatizar/concessionar os serviços de água e saneamento, tome em devida conta
o exemplo de Mafra, reconsidere e pondere os graves riscos que tal decisão
implica.
Como mostram os
documentos do concurso, as tarifas sofrerão aumentos reais na ordem dos cinco
por cento no primeiro ano da concessão; 15 por cento no terceiro ano, 12 por
cento no quinto ano e dez por cento no sétimo ano. Estes agravamentos serão
sempre acrescidos da inflação.
Além disso, o contrato
prevê uma taxa de lucro garantida de 13,43 por cento ao operador privado.
A população e os
trabalhadores do município de Vila Real de Santo António têm assim fundadas
razões para reafirmar a sua oposição à privatização dos serviços de água e
saneamento.
Lisboa, 12 de Dezembro
de 2016
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